Com certeza que já todos, ou leram, ou ouviram falar do livro de Dinis Machado “O que diz Molero”, ou da peça de teatro magistralmente interpretada pelo José Pedro Gomes e o António Feio, baseada no dito livro.
É para mim um livro muito interessante. Sobre a peça não posso falar pois não assisti, e é também a prova provada que não há outra forma de nos deleitar-mos com algumas imagens, a não ser lendo-as, e passo a explicar:
- Existe uma cena de pancadaria que é absolutamente deliciosa pela riqueza de pormenores e a imaginação de nomes, que seria impossível de teatralizar ou mesmo transpor para o cinema, sem que perdesse grande parte da sua magia; pois sendo uma cena narrada por Austin a Mister De Luxe, é com a indicação dos nomes dos intervenientes que a descrição ganha mais interesse.
Gostaria de transcrever essa cena, dividida em vários posts, pois ainda tem um tamanho considerável e de forma a tornar menos “cansativo” para quem lê, embora eu ache que é impossível cansarmo-nos com tal leitura.
Assim sendo, deixo-vos hoje o começo desse excerto:
...“contavam-se histórias do Ângelo”, disse Austin, acendendo um cigarro, ”que ele era, segundo a expressão que Molero diz ter recolhido em fonte idónea, danado para a porrada. Que uma vez, isto contava o Zeferino Torrão de Alicante, e o Chinês que vendia gravatas confirmava com a cabeça, o Ângelo ia a passar no Largo do Navegante, três ciganos daqueles que vendiam fazenda para fato meteram-se com ele, bem, dizia o Zeferino, não queiram saber, um dos ciganos sacou de uma navalha de ponta e mola, o Ângelo enfiou-lhe a navalha no buraquinho que as pessoas têm ao fundo das costas, e isto com uma rapidez que já está, ao segundo cigano torceu-lhe o braço até dar estalido, e o Padeirinha que o vê às vezes, diz que ele ficou sempre com o braço ao contrário, dava um bom policia sinaleiro, ao terceiro cigano deu-lhe uma tal cabeçada na testa que ele ficou toda a vida com os olhos tortos, há-de estar a olhar para a ponta do nariz até ir para a cova”...
(continua)
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