5.5.05

DESERTO DE IDEIAS

Não acrescente dias à sua vida, mas vida aos seus dias.
(Harry Benjamin)

Tenho um desejo imenso de escrever textos profundos, imaginativos ou simplesmente algumas palavras que fujam ao fútil e rotineiro.
Não sei se é consequência da idade, ou do desgaste de ter vivido tão intensamente algumas situações, mas o que acontece é que não me sai nada de jeito…nunca tive jeito para escrever prosa, já a poesia, surge-me naturalmente quando atravesso estados melancólicos ou de profunda tristeza, o que não tem acontecido (felizmente) nos últimos tempos, excepto em Dezembro quando tive de abater a minha amiga de 13 anos, a minha Jamie Lee, que a nossa amiga Lima tratava por “vaca”…mas eu sei que não era por mal, era só porque ela era muito grande, e só gostava de se deitar no caminho das pessoas, ou entre portas, ou no meio dos corredores, mas sempre num sítio que atrapalhava.
O que é facto é que cada vez mais a imaginação custa a surgir, cada vez me sinto mais pragmática e, consequentemente – segundo alguns – mais chata…
Também não me dá gozo fazer análises exaustivas sobre assuntos políticos, económicos ou religiosos, nem tampouco tecer considerações sobre comportamentos mais ou menos ortodoxos.
Que me resta então? Descrever o marasmo de cada dia? O repetir exaustivamente uma rotina que não me interessa nem a mim, nem ao menino Jesus, nem a quem quer que seja?
Gostaria de poder fazer relatórios de viagens lindas, contar acontecimentos fora do comum, mas… nada! Nada de nada me acontece de extraordinário; pois, como seria possível, se saio de casa às 7 da manhã, passo aqui o dia a aturar os clientes e o mau feitio da minha úlcera, e saio às 18, a correr para levar uma ao comboio, e a mim própria ao meu reduto de paz, que é em casa, para abraçar e mimar exaustivamente a minha cadelinha doce, e depois prosseguir com o desinteresse que tenho pelos assuntos domésticos, trocar umas larachas com o meu marido e melhor amigo, para depois me “espojar” a ver os documentários do National Geographic, Odisseia ou Discovery, umas vezes para ver as maravilhas que – ainda – existem, outras, para ver como estamos a assassinar este lindíssimo e único (que se saiba) planeta azul…
Já pouco tempo sobra para perorar mentalmente sobre o que desejo (se é que ainda desejo alguma coisa…) depois de quase todos eles terem saído gorados, já que sobre o que passou, pouco importa dar tratos de polé à cabecinha, nunca choro sobre o leite derramado.
Assim, meus amigos terão de me perdoar as minhas limitações, mas prefiro ser uma comum mortal viva, do que um génio morto.
“As grandes obras são sonhadas pelos génios, executadas pelos lutadores, desfrutadas pelos felizes e criticadas pelos inúteis crónicos.”
(Autor desconhecido)

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