26.6.06

A Virgem e o Menino


Há imagens que por vezes nem consigo olhar de frente. Pesam-me como um fardo inadiável, arrepanham-me a garganta num soluço que não consigo conter. Sobretudo em antítese com outras, que elegem o fútil e o supérfluo como tema e objectivo de vida.
No entanto, existem imagens idílicas que também me chocam precisamente no contexto em que são inseridas, como é o caso das imagens comuns da Virgem e o Menino. Chocam-me na sua perfeição ficcionista, apelando à dádiva e ao espírito de humildade, sem contudo quererem ver ou mostrar a crua realidade que as cerca, olhando mais para os que podem contribuir, do que para os que da contribuição necessitam de verdade.
Mas é quando olho imagens como a que hoje deixo, que me sinto baixa, egoísta e até nojenta, neste meu queixume desnecessário e fútil...
Estou aqui sentada a escrever num computador, palavra esta que, por mais que se tente traduzir para todos os idiomas, existem ainda milhões para quem ela não faz qualquer sentido. Digo umas graçolas de barriga cheia e, de cigarro na mão, vou percorrendo outras páginas, outras escritas e gentes.
Agora é a febre da selecção...como eu gostaria de ver o mesmo ímpeto e o mesmo entusiasmo deste povo, ao lutar pela sua qualidade de vida, pelos seus valores morais e edificando uma sociedade bem formada, participando no que realmente nos pode engrandecer, não só financeiramente, mas sobretudo: moralmente!
Continuamos a embandeirar em arco pelas causas erradas; e eu, como a maioria, vou continuar a queixar-me de barriga cheia, sentada no conforto de minha casa, a soltar baforadas de fumo e a impressionar-me com estas imagens.
Que nojo tenho de mim, por vezes...

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