4.7.06

Abordagens


Há cerca de 30 anos atrás, quando a casa da minha mãe era o que se apelidava na altura, de Casa de Hóspedes, foi para lá viver um Senhor já com oitenta e tal anos e que, segundo ele e os cartazes que ainda possuía, tinha sido o primeiro palhaço português e o seu apelido fazia jus à profissão, pois era o Sr. Graça.
Como era baixinho, tinha uma almofada que levava para colocar na cadeira, quando ia comer, mas levava-a sempre à cabeça, enquanto cantarolava ou dizia umas graçolas. Era uma jóia de homem, sempre alegre e pronto para a brincadeira.
Não me lembro ao certo quantos anos lá esteve connosco, apesar da sua sobrinha e demais família viverem ao fundo da rua, numa casa muito bem posta, pois eram pessoas de muitas posses, ligados à ourivesaria. Sei que começou a ficar com necessidades a nível de cuidados médicos, que não tínhamos capacidade de proporcionar, nem tampouco a vocação da casa era essa.
Apercebemo-nos disso, quando uma vez depois de ter ido ao médico, se queixava de uns certos comprimidos, que segundo ele, eram muito difíceis de engolir. Tomámos aquilo como uma queixa mais, vinda de um doente que começa a estar farto de tantos medicamentos, mas não demos importância. Até que a sua insistência a falar do assunto, suscitou a curiosidade da minha mãe, que lhe pediu para lhe mostrar os ditos comprimidos.
Afinal eram supositórios...o desgraçado do homem, bem que se queixava, estava também a fazer a abordagem, pelo lado errado.
Problemático foi também explicar-lhe, a forma correcta e o sítio por onde deveriam ser administrados, mas isso é outra estória...

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