2.7.06

Voltando às estórias verídicas


Sempre li que uma das características do meu signo (Sagitário), é a tendência para o exagero, o que no meu caso até é verdade. A título de exemplo, em vez de dizer: já te disse mais de dez vezes. Digo: já te disse trezentas mil vezes...e coisas assim. Mas a estória que hoje vos vou contar, limita-se a um relato o mais fiel que me é possível, embora possam pensar o contrário e até eu ao viver a situação, me questionei se aquilo estava realmente a acontecer e da forma que o estava...
Alguns de vós já me ouviram falar da minha falecida cadela Jamie Lee, que era arraçada de Leão da Rodésia e tinha uma raiva de estimação pela generalidade dos outros animais, particularmente por gatos e sobretudo, por ratazanas.
A dada altura em que estava com o cio, deixámo-la fechada em casa, mais ou menos durante uma hora e quando chegámos, a porta da cozinha que dá para o quintal, já tinha um buraco onde ela quase conseguia meter a cabeça, como a porta era de madeira, encarregou-se de a roer num instantinho. Decidimos substituir a porta, pois já não estava em muito bom estado e com o buraco, pior ficou. O facto é que enquanto não foi substituída, entravam por lá alguns ratos que a Jamie se divertia a caçar e a matar, acho que poucos tinham hipótese de passar da cozinha para dentro.
Um dia, estava eu sozinha em casa e fui a um dos quartos que na altura se limitava a ser uma divisão com mobílias desmontadas e onde guardava as coisas que ainda não tinham lugar destinado, após a troca de divisões que havia feito; quando abri a porta, vi aquilo que de relance me pareceu um gato preto, que se enfiou debaixo de um guarda-vestidos, quando o tentei afugentar para ele sair, apercebi-me de que não era um gato, embora o tamanho fosse em conformidade, a forma e sobretudo a cauda, não o eram: era uma enorme ratazana, que fugia de canto para canto. Eu não tenho medo de ratos, tenho é nojo, sobretudo de ratazanas. Fechei de imediato a porta, para poder digerir o que acabava de ver e resolver o que podia fazer. Lembrei-me da Jamie, mas ela tinha saído com o meu marido e dado o tamanho do bicho, confesso que não tinha coragem de a colocar lá dentro.
Estava eu encostada à porta que tinha fechado com o trinco, quando começo a sentir algo a puxá-la do lado dentro, tentando abri-la; fiquei logo a bater mal com a força que estava a ser exercida, tratei de fechar a porta à chave. Nós tínhamos tirado todas as alcatifas da casa e todas as portas ficaram com uma frincha no fundo, correspondente à altura da alcatifa que lá estava, que não era muito larga, mais ou menos 1 cm; da parte da fora da porta estava um pequeno tapete, com o qual tentei tapar a dita a fresta, quando dou conta, o tapete estava a ser puxado para dentro com tanta força, que começava a escapar-me por baixo dos pés, decidi agarrá-lo com as mãos e puxá-lo quando vejo que a parte que tinha sido puxada, estava feita em franjas e perante essa visão, fiquei petrificada e o tapete desapareceu de uma vez, debaixo da porta....
Confesso que o meu coração já estava tão acelerado e o que sentia, era medo, mesmo. Não queria acreditar naquilo, e só ouvia sons de coisas a rasgar e uma espécie de gritos agudos, vindos de dentro do quarto; nem conseguia pensar com clareza, mas tinha de arranjar maneira de tapar a fresta para ela não se escapar, quando comecei a sentir os tacos do chão a mexer, não são propriamente pequenos, têm 20x7 cm e estavam colados, começou a arrancá-los do chão, um por um, primeiro lá dentro e depois avançou para os que estavam debaixo da porta, eu bem queria calçar 48 ou assim, nesse dia, mas os meus pés não chegavam para os segurar a todos, então, puxei uma cadeira que estava perto e deitei-a de lado e sentei-me em cima dela, para segurar aquela fileira de tacos, que a desgraçada não desistia de tentar arrancar.
Não sei quanto tempo ali estive sentada, a ouvir o reboliço dentro do quarto e o raspar dos tacos, até que sossegou e eu pude levantar-me dali, sem conseguir acreditar bem no que tinha vivenciado.
Felizmente o meu marido não demorou a chegar, na altura não era comum ter telemóvel, daí a impossibilidade de o apressar no regresso. Expliquei-lhe o que sucedera e ele quando viu o aparato à porta do quarto, sei que pensou que eu tinha exagerado, pois quando me levantei dali, coloquei uma arca pequena em cima da cadeira para fazer peso; e espreitou para dentro do quarto e viu-a a correr direita à porta, que fechou de imediato com ar meio assombrado e chamou a Jamie; ainda o tentei demover, mas ele estava confiante que a cadela não teria problemas em limpar o sarampo à alimária. À Jamie, parece que já tinha cheirado, pois veio com o pelo eriçado e a guinchar de satisfação, deixámo-la entrar e fechámos a porta...
O que se seguiu, foi uma sucessão de sons estranhos, desde guinchos, rosnadelas, unhas a derrapar no chão, a Jamie a guinchar com a adrenalina (não sei se os cães têm), mas era o som que fazia quando estava nervosa e contente ao mesmo tempo, até que ao fim de uns minutos, fez-se silêncio...abrimos a porta e a Jamie estava com o seu troféu aos pés (ou patas, como queiram), a boca ensanguentada e a abanar a cauda de satisfação.
Nunca tinha visto uma ratazana daquele tamanho e como na altura tampouco tinha máquina fotográfica digital, não pude fotografar a alimária para atestar a veracidade daquilo que vos contei, mas acreditem que não existiu ponta de exagero na minha narrativa, foi mesmo assim.

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