17.1.06

Crimes


Quem passeia por esse país fora, sobretudo pelo interior, pelas Beiras ou pelo Litoral Centro e Norte de Portugal, já se deparou com certeza com a ruína iminente de muitas casas abandonadas, cuja imponência e fulgor, há muito desapareceram, ou vão lentamente desistindo da luta contra os elementos, e deixam-se invadir pela flora e fauna, que a devoram com a lentidão de quem degusta um petisco...
Em muitas cidades, vai existindo o mesmo abandono criminoso, que, não deixando lugar à natureza, simplesmente as demole de uma vez, poupando-as talvez, digo eu, ao lento agonizar, claudicando frente aos elementos.
Gosto especialmente de Art Déco e Art Noveau, e adoro admirar os pormenores de algumas casas, mesmo cá em Coimbra, que ladeiam as janelas, com magníficas cantarias, e reportando-nos a uma Era, onde existia “Tempo”. Havia tempo para criar e apreciar estas e outras obras, os azulejos mais elaborados que a mão humana conseguisse criar, criar-se-iam, e adornariam claustros e pátios, bordejados de fontes e arbustos...não estou a tirar valor à Arquitectura Moderna, nem aos grandes, como o Siza, também aprecio essas obras, mas deixam-me sempre um pequeno vazio, que só estas lindas varandas e fachadas, conseguem preencher; é uma admiração de um estilo e, ao mesmo tempo, uma nostalgia antecipada pela degradação de um património inestimável, e que não creio que não venha a ser engolido pela “modernidade”.

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