19.2.06

Noite de tempestade



Este sábado como é hábito, dado que no anterior tinha ficado em Coimbra, ao fim da tarde, toca a preparar as coisas para ir até à quinta e como o tempo estava mau, com muito vento e chuva, decidimos levar uma catana e um serrote, que também lá iriam ser precisos, para podar algumas árvores e arbustos. A comédia começou por volta das 18 horas, em que se abateu sobre a cidade uma tempestade e pêras, de tal maneira, que não conseguíamos percorrer o metro e meio que nos separava do carro, sem ficarmos completamente encharcados, quanto mais prepará-lo com a manta para a cadela, e colocar as coisas na mala; como tal, tivemos de aguardar que a bátega abrandasse.
Eram quase 18.30 quando conseguimos sair de casa, sempre numa velocidade moderada, pois o vento abanava o carro de tal maneira, que era difícil conduzir direito; passámos o IC6, e a Venda da Serra cada vez chovia mais e com vento, os relâmpagos tornavam a noite em dia. Á saída da Catraia do Mouronho, vemos uns farolins a piscar à nossa frente, eram 3 carros parados frente a um pinheiro enorme, mas enorme mesmo, que havia caído e cortava a estrada e as bermas completamente, devia ter caído há poucos minutos pois havia muito trânsito e para estarem só 3 carros, é porque fora recente, nem pensámos 2 vezes, cortá-lo era impossível com a nossa ferramenta, e os Bombeiros ainda deviam demorar; meia volta e toca a apanhar a 1ª estrada de fuga, uma secundária rumo a Arganil, onde a meio do percurso apanharíamos a outra que liga a Côja e ao Piódão. Mal entrámos na estrada, apercebemo-nos que era perigosamente bordejada de árvores que abanavam furiosamente, e muito estreita e estava cheia de pedaços de ramos das árvores e mato e cascas de eucalipto, e aqui e ali era atravessada por rios de água que desciam os montes. Quase chegados ao entroncamento, deparamo-nos com outra árvore no meio da estrada, mas já lá estavam 2 homens (desgraçados, nem sei como se mantinham em pé, com tanto vento) a tirar uns galhos da berma, para que o trânsito pudesse fluir, para mais tarde a cortarem e retirarem, conseguimos passar e apanhar a tal estrada rumo a Côja, é uma estrada muito antiga e sem qualquer sinalização, daquelas que são mesmo só para quem lá mora e conhece, mas lá fomos guiados pelo sentido de orientação, chovia tanto, tanto, uma coisa absolutamente descomunal, não se conseguia ver 1 metro à frente do carro, a estrada era negra e sem qualquer marcação, e era quando se via, pois na maior parte dos sítios não passava de um rio, cheio de paus e ramos e todo o tipo de mato, em furiosa torrente. Quando a chuva abrandava e os relâmpagos iluminavam tudo à volta, era algo do outro mundo: as árvores pareciam tomadas de um transe epiléptico, tipo Vodoo e era incrível como não se arrancavam do chão, tamanha era a fúria do vento.
Percorremos assim, mais ou menos 15 Km, e fomos dar novamente à Nac.17, já perto de Gândara de Espariz, ou seja: o que seriam 3 Km de boa estrada, transformou-se em 15 de inferno, adiante...
Liguei à minha mãe para a tranquilizar pois ela estava lá sozinha e sei que tem medo de trovoadas, e para avisar do sucedido e do atraso, ela estava aflitíssima quase a chorar, a pedir-me para ter cuidado e vir devagar, a luz tinha faltado e lá o tempo estava igual.
Continuámos até chegar à Venda da Esperança, onde nos deparamos com carros parados e outros , a fazer inversão de marcha; outro pinheiro enorme caído, a tapar qualquer passagem; toca a virar para Covas e tentar encontrar uma qualquer ligação às Vendas, escusado será dizer que as placas ali, também não abundavam e pior, não havia luz, não tínhamos pontos de referência que nos conduzissem na direcção certa, lá nos deparámos com um cruzamento no meio de uma aldeia, que tinha um Sinal de sentido proibido à porta de uma casa, onde não havia estrada nenhuma, e uma que seguia pelo meio das casas, mas que nem alcatroada era, continuamos por aí, pois uma placa dizia: Galizes, e aí fomos sempre por essa estrada cheia de regueiras e pedras e riachos de água, mas finalmente lá chegamos a Galizes e às Vendas de Galizes, num raio de Km não havia electricidade, só se via o Hotel de Aldeia das Dez, pois deviam ter algum gerador de emergência.
Tranquilizei uma vez mais a minha mãe e duas horas depois de termos saído, para uma viagem que costuma demorar 1 hora, lá chegamos ao destino. A minha mãe estava assustada e os cães também, pois a cadela teima em estar cá fora, mas quando começou a ver, a taça do comer dela a percorrer um voo, rumo à leira de baixo e o balde a esvoaçar e a aterrar uns 50 metros mais à frente, e para cúmulo vem um cesto de verga a voar a largar luvas que lá tinha dentro, deve ter pensado melhor e deixou-se vir para dentro com o filho.
A minha Nika lá foi tomar o seu banho na poça, no meio da tempestade para refrescar...é doida de todo aquela bicha, e eu passei o tempo aninhada à lareira, numa conversa amena sobre as coisas de antigamente.

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