17.4.06

Liberatura




Corria o ano de 1979, estava eu em plena adolescência e tinha aquela sede de coisas novas, diferentes ou simplesmente: à margem do que se chama hoje “politicamente correcto”. Sobretudo na poesia, procurava escritas alternativas, amadoras ou não; em Coimbra nessa altura, surgiu uma publicação da qual só conheço os nºs 1 e 2 e penso que mais nenhum terá sido editado. Parece uma sebenta, chamava-se “Liberatura” tem poesia e textos escritos à máquina por diversos autores, entre eles A. Pedro Correia de quem vos deixo este poema que se chama: “Estória seguida de noite” do qual eu sempre gostei muito, não é dos mais “alternativos”, mas gostei das palavras. Desta publicação, não eram só os textos que eram diferentes, mas também a maneira de os apresentar, como poderão ver pela imagem, daí esta publicação ser considerada na altura, do mais radical que existia.

Acordou um dia já vestido de resolução.
Fixou um sorriso novo no rosto e saiu.
Partia, disse-me, porque queria beber a vida até à última gota.
Partia porque aqui sempre foi perto, disse. Sempre foi pouco.
Partia, disse-me, porque o arco-íris não acaba aqui e queria pendurar-lhe o sorriso novo. No vermelho, penso.
Continuou, partindo sempre, até gastar o sorriso e acordar nú, já muito bêbedo de vida.
Não aguentou a ressaca. Suicidou-se.

A. Pedro Correia

Um comentário:

Fernando Lima disse...

Boa tarde
Procuro esta publicação (mas não a encontro), há basto tempo.
Tem algum exemplar a mais ou sabe quem tenha e queira/possa vender? Pode dar-me alguma ajuda?
Cumprimenta.
Fernando Lima