3.3.06

Continuação

Especialmente para a Fatyly e para o Peciscas, que pelos vistos foram os únicos que tiveram paciência para ler.

Capítulo II

Tínhamos o carro e no porta luvas, uns módulos de cheques de um assalto anterior, a uma garagem de reparações auto, muito longe dali.
Fomos de imediato comprar cenouras o mais gordas possível, pois como já expliquei o Joka tinha habilidade com as mãos, e fez carimbos da garagem a quem pertenciam os cheques, perfeitinhos por sinal, e com um rabisco por cima, aceitavam em qualquer loja.
Lá fomos nós a cadeias de hipermercados onde houvessem electrodomésticos, roupa (ficámos sem nada)- o desespero era tal que até apresentava o meu BI, estava-me a cagar para tudo - para depois ir aos pretos trocar por pó. Lá arranjei umas roupitas de adolescente que era o que havia, só consegui um conjunto saia e blusa, nas “Confecções Arame”, que visitávamos nas vivendas durante a noite.
Vesti-me à Lady, e fomos comprar uns relógios Tissot e Ferrari para ganhar mais umas coroas.
Os cheques estavam a acabar-se, o casal que tinha ido connosco, foi para casa com o rabo entre as pernas, só é giro porque ele andava sempre de cabedal e ar de mau, e armas, e ficou sem uma faca tipo Rambo, que o “armário” lhe tirou, ameaçando-o com uma gravata Colombiana. Ainda tentámos recuperar o pó, o Joka tinha uma lata que só visto, conseguiu marcar encontro com os gajos num café, mas viemos de mãos a abanar, com burros é o que dá...armado em campeão o Joka foi procurar o gajo à terra dele, mas foi corrido a tiros de caçadeira pelo pai do artista, que não era muito diferente do filho, era mais tipo “roupeiro”.
Lá fomos vivendo aos caídos por lá, a dormir no carro, ou em cima de cartões em prédios embargados, sempre alvo de rusgas pontuais; aquilo eram verdadeiros labirintos, só se viam olhos a brilhar, não havia água nem luz, o cheiro era fétido a urina e outros dejectos.
Até que o Joka tem mais uma das suas ideias brilhantes: vai-se a uma Estação dos CTT, manda-se um vale Telegráfico para um de nós no valor de 3.000$00 (ainda era em escudos), com destino a outro lado, levanta-se no dia seguinte, mas só o aviso se for um posto informatizado; depois trata-se de colocar um 1, à frente do três e um “e” no fim , no extenso do Três, fazes treze...
Naquela altura havia poucos postos por informatizar, só mesmo nas terreolas menos turísticas, e lá fizemos o dito; correu bem, tínhamos descoberto a pólvora...a merda era que só dava 10.000$00 de cada vez, e então tínhamos de aproveitar bem o tempo em que não estávamos a ressacar, para arranjar mais dinheiro, não havia descanso, a nossa praia era feita nos parques de estacionamento das praias mais populares, à procura de algum carro mal fechado, ou nos Aparthotéis à espera de alguma oportunidade.
Uma manhã, estávamos estacionados num desses que têm as varandas quase a rasar os relvados e janelas baixas. O Joka viu uma janelita aberta, que pelo tamanho, devia ser da casa de banho, e “tunga” entrou de cabeça, pois entretanto haviamo-nos apercebido que os camones tinham saído. Às tantas vejo o Joka a abrir a janela da varanda e a sair, e cumprimentar o jardineiro que entretanto chegara e andava a regar, com a maior descontracção, e entrou de novo e demorou-se um bocado. Às tantas sai ele, pela varanda e de mãos vazias...diz que começou a fazer as malas dos gajos, era só roupa praticamente, quando se deu conta que a porta estava trancada e não conseguia sair por lá, deixou-lhes as malinhas feitas e veio-se embora; imagino a cara dos camones quando se depararam com aquilo...
Um dia o Joka estava a dormir que nem um urso em hibernação, quando dormia, nem baldes de água resultavam, nunca vi ninguém assim, sentava-o na cama, falava comigo e continuava a dormir. Conclusão, acordou com uma valente ressaca, danado para ir comprar pó, mas eu estava precisamente a acordá-lo para irmos trocar o vale, e ainda tínhamos de procurar onde, pois ali à volta era tudo informatizado, que eu já tinha andado a “micar”, e o atrasado nem liga ao que digo e como os levantamentos eram feitos em meu nome, levou-me o BI para levantar, mas claro que eles iam ver logo, eu saí do carro e comecei a disfarçar, ele estava a demorar demasiado tempo, quando vejo chegar um Jipe da GNR e um cabrão a apontar para mim à porta dos correios, e eu a descer rua abaixo a fingir que não via, de mini saia que quase se me via o rabo, quando sinto uma mão no ombro: “Dª Maria Manuel?”, sim respondi, “faça favor de nos acompanhar”. Mais uma vez: fodeu-se!!
(continua)

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