4.3.06

A pedido de várias famílias



Estas fotos não são da Manel, são tão só, um exemplo da degradação física - já que a psíquica não é fotografável - que em 4 anos ou menos, um ser humano pode alcançar. Apesar de a narrativa poder continuar, dou-a por terminada aqui, pois determinados pormenores poderiam ferir pela sua crueza; concerteza que foi a Tribunal e por aí adiante, e acontecerem-lhe muitas outras peripécias, que eventualmente vos trarei mais tarde, tudo isto antes de ser encontrada morta dentro de um poço, sem chegar a completar 30 anos de vida...

Capítulo IV

Os guardas estavam à espera que eu adormecesse como havia dito o médico, e eu: nada...falava pelos cotovelos, cravava cigarros e abri de imediato uma conta a crédito no bar dos guardas (eu tinha uma lata descomunal), disse-lhe que quando esta baralhada se resolvesse eu tinha dinheiro em casa e 6 caixas de Whisky que lhes ofereceria, não esqueçam que eu estava de mini saia, muito mini mesmo, e apesar de estar “agarrada” era muito jeitosa, sobretudo de pernas, bem torneadas e sem gordura, com um tornozelo fino e o facto de eles serem GNR, não conseguia sobrepor-se ao facto de serem homens e terem instintos. Eles queriam é que eu dormisse, mas eu sempre a falar e a contar anedotas, pois os tais fármacos só conseguiram aliviar-me a ressaca, e manter-me as ideias mais limpas.
Por volta das 3h da manhã, eles tinham de ir fazer uma ronda na qual, passavam por uma padaria, estavam a comentar que iria ser uma seca, pois além da dita padaria onde podiam comer uns bolinhos, a ronda não era nada interessante; pedi-lhes de imediato que me trouxessem uns croissants que estava cheia de fome, pois não me tinham dado jantar. E eles trouxeram mesmo, e uns pães com chouriço e tudo.
O dia seguinte, passei-o sem grandes sobressaltos, só mais uma ida ao hospital para mais um cocktail, desta vez ainda mais reforçado devido à ineficácia do anterior; o Joka no meio da ressaca, conseguiu encontrar forças para pedir para o deixarem lavar à mangueirada a cela, dado ter que dormir lá mais uma noite, e deixaram-no retirar todos os colchões e cobertores, o que foi uma benção, apesar de ele ter de dormir no cimento, sempre era preferível ao pivete anterior.
Os guardas acharam que não havia grande crise se eu passasse mais uma noite lá no bar, e eu também não, sempre tinha tabaco e tudo à borla, até os tais pães com chouriço a meio da noite, à pala da tal “conta” que me haviam aberto.

Capítulo V

Na segunda noite, os guardas eram os mesmos, tinham aquele turno durante o fim-de-semana, até eram uns gajos fixes, embora burros, como era apanágio da nossa GNR.
Começaram a contar-me rusgas e detenções, dado que eu não dormia, nem com um cocktail molotov, como dizia um deles...
No meio da conversa, diz um deles: “ ainda antes de ontem apanhei um magano, com umas “palhinhas” a vender, dei-lhe uns chapadões, tirei-lhas e mandei-o embora, até nem sou um gajo muito mau.”
E então perguntei eu: “ como justificas as palhinhas, sem a detenção?”, ao que ele respondeu: “estão ali na gaveta da mesa do chefe, para ele fazer o que lhe der na gana com elas, quando vier na segunda-feira”. A minha cabeça de repente, parecia um computador a fazer equações: A+B=C...estratégia, qual a melhor estratégia? Pensava eu; fui pela estratégia do amor próprio. Ninguém gosta de ser tomado por parvo, nem fazer figuras tristes, e então desatei a incitá-lo: “ Oh, se calhar o gajo estava a vender Aspegic e o desgraçado ainda levou no maço”, e ele retorquia: “Nada disso, aquilo é droga, eu sei que é”
- Como é que sabes provaste-a?
- Não, claro que não, mas vê-se que é meio acastanhada
- Isso não quer dizer pescoço, retorqui...os gajos andam para aí a vender Ben-u-ron frito, que é castanho, e quando o teu chefe vir, até se passa...
O gajo começou a coçar a cabeça e a pensar, de repente levantou-se e foi ao escritório do chefe e aparece com 3 palhinhas que lança para cima da mesa, ao mesmo tempo que diz:
- Vês como é droga?
- Eu não vejo nada, só 3 palhinhas com qualquer coisa lá dentro e pelo aspecto granulado, de droga só tem mesmo o nome que lhe deste.
Ele começa a ficar inquieto e abre uma, nesse entretanto já eu tinha queimado uma prata de cigarro, enquanto lhe dizia:
- Já tiramos isso a limpo, é só queimar, agarro a palhinha e despejo-a na prata e dou-lhe fogo por baixo. Nem precisei de tubo, era só aspirar pela boca e nariz e até pelos olhos se conseguisse, tal era a avidez. Era pó, não muito bom, mas era. E eu dizia-lhe:
- Deixa ver melhor (depois de ter queimado tudo) dizia-lhe:
- Isto são comprimidos carago
- Não me digas, dizia ele, será que as outras também?
- É o mais provável, mas já agora, vamos ver.
E fiz o mesmo às outras duas, com tal rapidez que nem tiveram tempo de pensar, e já tinha fumado aquilo tudo, quando de repente um deles acorda e diz:
- E agora pá, o chefe?
- Então, o chefe nem chegou a saber de nada e livraste-te de um raspanete no mínimo, por andares a espantar a caça, disse-lhe eu.
- Ai de ti que digas a alguém o que se passou aqui, nem que tenha de dar a volta ao mundo, limpo-te o sarampo, estejas onde estiveres, dizia-me ele.
Mas naquela altura eu já não queria saber de nada, o que me importava era que não tinha ressaca e podia finalmente dormir...quando vieram com os pãezinhos de chouriço, já eu estava na outra dimensão onde tudo é rosa, azul e lilás, e a vida é cheia de sorrisos.

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