5.4.06

Grafite



(Ó mana desculpa lá, é só mais um testamentozito...)

Se existe objecto de predilecção, seja para a escrita ou para o desenho, o meu é sem dúvida o lápis; de tal maneira que no Liceu, apesar de saber que não podia, pedia sempre aos professores para fazer os “pontos” a lápis. Sim, um lápis simples de preferência 2HB e sempre afiadíssimo, que é outra das minhas manias, pois não consigo escrever ou desenhar com lápis rombos e por esse facto têm de ser de qualidade; nos de cor opto pela Caran D’Ache, que foram aliás a minha primeira compra quando cheguei à Suiça, uma maravilhosa e há muito desejada, caixa de 40 lápis de cor, contrariamente à maioria das pessoas que me dizem que a sua primeira compra seriam: chocolates...enfim, prioridades.
Apesar de não os conseguir usar durante algum tempo, em virtude das feridas e das consecutivas perdas totais da pele das mãos, provocada pelos detergentes industriais com que trabalhava e das diferenças de temperatura nos meus trabalhos diários, pois poderia por ex. acabar lavar as panelas de pressão gigantes, dentro das quais tinha de me meter para as esfregar e cabiam lá mais 3 ou 4, seguidamente poderia ir lá para fora para os –10º C, retirar a neve de alguns locais, ou ir para os frigoríficos de –20º C, arrumar ou limpar, era assim.
Quando comecei a experimentar o desenho com lápis de cor, senti um toque diferente.
Não era a mesma coisa, os traços que saiam não eram os que a mão pedia e nunca consegui fazer um desenho “de jeito” a lápis de cor, só, sem utilizar primeiro o de grafite.
Há alguns anos, uma querida amiga ofereceu-me uma caixa de madeira da Caran D’Ache, com 160 lápis de 80 cores, pois são 80 de aguarela e os outros 80 são Prismalo. Guardo-a como um tesouro, por vezes abro-a só para admirar aquele arco-íris de cores – já me esquecia: outra mania é ter as cores sempre na ordem- mas foram raras as vezes que os utilizei, pois o que realmente me dá prazer, é o toque da grafite no papel, por vezes uso-os para colorir desenhos já feitos, ou em superfícies maiores.
No entanto, fico sempre com a sensação que nunca acabo os meus desenhos, o que é verdade, pois se algo me interromper o processo criativo, é-me impossível retomar o traço, o rumo e o estado de espírito. Nas arrumações que ando a fazer encontrei estes dois exemplares de “inacabados”, o peixe de 1990 e o pássaro, mais recente de 2004, e como podem ver parecem ter sido largados à pressa, por quem fugiu em busca de algo imperativo...fica-me sempre a pergunta: Sê-lo-ia?...

Um comentário:

Di disse...

Lindo seu desenho e seu texto também.
Li toda sua história e gostaria de saber mais e mais ... é simplesmente fantastica!

Adorei