30.4.06

Parabéns querida mãe


Pelos seus 77 anos cheios de vida, pela capacidade de sofrimento e sacrifício e por tudo o que nos conseguiu proporcionar com tanto esforço e abnegação.
Obrigada por ser um exemplo de humildade e apesar das vicissitudes, nunca nos ter transmitido sentimentos de raiva ou de revolta, pois a vida encarregou-se disso. Gostava que a vida não tivesse sido tão madrasta para si, mas sei que todas nós tentaremos compensar as nossas faltas e retribuir todo o amor e carinho com que sempre nos brindou.Parabéns!!

29.4.06

paisagem árida


Outros traços, neste caso, no livro Íntimo Rigor de Álvaro Manuel Machado.

28.4.06

Desafio

(clique no título) Vejam pelo menos no site, os antes e depois, por favor!

Na sequência de um desafio para divulgar uma instituição de solidariedade à minha escolha, lançado pelo rui-son deste Blog, que gosto de visitar e como eu não sei fazer aquelas coisas de copiar os logotipos, vai ter que ser com o link do site em questão.
A minha escolha é baseada no acompanhamento que fiz do percurso de uma das fundadoras, que sempre revelou um amor incondicional pelos animais, estando anteriormente ligada aos Animais da Quinta, antes de se ter tornado uma Associação.
São jovens estudantes universitárias que partilham o esforço e o amor que estes animais abandonados merecem, há anos que contríbuo monetáriamente para diversas Associações e divulgando os seus apelos, mas esta merece-me um carinho particular e apesar de ter recebido já inúmeros convites para uma visita, a vida ainda não o permitiu, mas continuo sempre a acompanhar o esforço, a abnegação e a luta que eles travam diáriamente, contra a indiferença, o abandono ou a maldade pura e simples do género humano. Tomei conhecimento de estórias de violência atrozes, de actos de barbárie de tal envergadura, que me interroguei muitas vezes de que mente tão retorcida teriam saído. Tenho duas cadelas como alguns de vós sabeis, uma resgatada da rua e a outra, retirada no último instante, da morte certa a que a haviam votado, hoje sei que foi assim, se não a tivesse trazido e tratado, teria morrido nessa semana, sofre de Leishmaniose visceral que quando não tratada é mortal, dolorosamente mortal, e para o evitar basta um comprimido diário para o ácido úrico, boa alimentação e pouco stress físico, apesar de não ter cura, com este paliativo ela tem uma vida normal e cheia de alegria, aprendeu a brincar e a receber e dar carinhos, que, se nos fazem tanta falta a nós, por que razão acham que os animais não lhe sentem a falta?
Agradeço a quem puder, que divulgue este site e não tenha receio de ajudar, pois tudo o que for doado, podem ter a certeza que chegará ao destino certo. Gostaria de continuar este desafio, deixando o repto à mana e à gorda. Graças à Wind, lá consegui colocar os links, obrigada pela dica.

No tempo das vacas gordas


Quem conhece bem, ou vive ou já viveu em Coimbra, sabe que um dos meeting points mais conhecidos é a Praça da República, onde convergem várias ruas e a Avenida Sá da Bandeira , fica muito perto das Faculdades e da animação nocturna ou diurna e também das cantinas mais concorridas da Universidade.
A Praça (como é simplesmente chamada pelos autóctones), parece uma cratera aberta no meio da cidade, pois ela é plana e todas as ruas em seu redor são bastante inclinadas, sobretudo em direcção aos Arcos do Jardim, à rua de Tomar ou em direcção à Cruz de Celas, cuja rua vemos imagem e tem o nome de Lourenço Almeida Azevedo.
Como foi acontecendo noutras cidades, os eléctricos foram sendo retirados e substituídos por autocarros, mas a minha juventude foi passada em contacto estreito com eles, tão estreito que por vezes viajava pendurada, como via os miúdos fazer e volta e meia: pumba!! Lá mandava um “terno”, pois ainda não tinha aquela perícia que eles tinham de saltar em andamento, quando o revisor começava a gesticular lá dentro, direito à parte de trás, para correr connosco.
O meu marido como é 7 anos mais velho que eu, teve uma vivência ainda mais intensa da cidade, pois essa diferença que agora quase não se nota, naqueles tempos era muito grande de ano para ano, fosse pela intensidade do tráfego ou pelas velhas relíquias e hábitos da cidade, que iam sendo alterados. Ele pertencia àquilo que era uma elite na altura, constituída pelo pessoal que tinha uma mota ou motorizada, ainda por cima, tinha (e tem) uma perícia em duas rodas, muito difícil de igualar e esse facto (além de outros que agora não vêm ao caso),tornou-o muito popular.
Os amigos dele mais chegados até tinham motas melhores e mais potentes, mas faltavam-lhes as “mãozinhas” para as levar ao limite e arriscar como ele; alguns anos mais tarde na Honda 175 Scrambler, venci com ele – como pendura, claro – alguns despiques nas ruas mais movimentadas e difíceis, contra uma Kawasaki 750 de um amigo que era o que mais tentava imitar-lhe as maluqueiras, nas rectas ficávamos para trás, mas apanhávamo-lo sempre nas curvas, que muitas vezes se faziam com a roda de trás assente no passeio e os joelhos rente ao chão.
A malta mais nova queria era despiques, corridas, fugas ao “Baby Face” que era o Polícia de mota, de “estimação” do pessoal racing, pois era o único que se dava ao trabalho de os perseguir, pelo menos até se porem a subir quaisquer escadas que encontrassem, nessa altura desistia, pois a mota era muito baixa e optava por esperar o meu marido à porta de casa para lhe dar mais uma descasca.
Os putos mais novos, para se tentarem integrar no grupo, volta e meia apareciam com bidons cheios de gasolina que tinham roubado de alguns carros, para a oferecerem ao pessoal das motas e claro que eles não se faziam rogados, mas por vezes era tanta, que nem sabiam o que lhe haviam de fazer, nessa altura, inventavam...
Esta rua era percorrida em ambos os sentidos por eléctricos, que à noite eram muito menos frequentes e de madrugada, quase não havia trânsito, só mesmo o pessoal que saía do ETC. que era a única Boite da cidade, e que ficava mais ao menos ao cimo desta rua; numa dessas noites em que sobrou gasolina e estavam sem saber o que fazer, lembraram-se de quê? De deitar a gasolina nos carris lá ao cimo, junto às escadas do Liceu D. João III (agora José Falcão), deixá-la chegar à Praça ou quase e então, deitar-lhe o fogo...
Imaginem esta rua de noite, com quatro linhas paralelas a arder por ali abaixo, eu não cheguei a ver, mas diz quem viu que foi digno de nota e só foi pena, naquela altura ninguém ter máquina fotográfica para que ficasse para a posteridade.

27.4.06

As três Fadas



A verdadeira e única história das três FADAS!!
Certo dia, a professora pediu a toda a turma para inventar uma história. Depois de todos os colegas lerem a sua composição, chega a vez do Carlinhos, que começa assim:

- "Vou contar a história das três fadas:
Era uma vez uma prinsusa..."
Nisto a professora interrompe e diz:
"É princesa que se diz e não prinsusa!"
- "Não Sra professora, nesta história é mesmo prinsusa."
E continua:
- "Era uma vez uma prinsusa, que vivia suzinha na turre do seu castalho e estava traste, muito traste por estar suzinha. Resolve então enviar um bilhuto a um prinsusu que também vivia suzinho na turre do seu castalho.

Escreveu muitos bilhutos até que um dia o prinsusu agarrou no seu cavalo e cavinhou, cavinhou, cavinhou pela florista até chegar ao castalho da prinsusa.

Quando chegou à purta do castalho da prinsusa dá-lhe um pintapu e a purta cai.
Sobe a correr até à turre da prinsusa, arrebenta com a purta do quarto da prinsusa, ele olha para ela..., ela olha para ele..., ele olha para ela e....

Dá-lhe três fadas!!!"

25.4.06

Sentido de humor


(depois daquela factura, apesar de difícil, é imperativo mantê-lo)
Se há coisa que aprecio na generalidade das pessoas, é o sentido de humor. Para mim é das qualidades mais importantes no carácter de alguém, seja nas relações de trabalho, seja nas de amizade ou simples conhecimento circunstancial.
Se é importante nesses casos, então na relação mais íntima que temos, ou seja, com a pessoa que escolhemos para partilhar todos os acordares despenteada e de olhos inchados, que partilha connosco as angústias e as dificuldades, essa qualidade é para mim indispensável. O meu marido tem um sentido de humor multifacetado, que me agrada particularmente, ora é refinado ou satírico, ora é irónico e mordaz, fartamo-nos de rir os dois sozinhos cá em casa, nem tenho coragem para vos contar um décimo daquilo que escarnecemos, fazemos filmes completamente desastrosos, dignos do melhor de Mel Brooks e rimo-nos até às lágrimas...
Dizia-lhe eu há pouco ao jantar,que foi roupa velha e que acompanhámos com um Quinta da Alorna, branco muito fresquinho :
- deixa-me beber mais um copo para me inspirar.
- Bebe, bebe para ficares inteligente...
- Que julgas tu? Por acaso até me saem melhor os textos que escrevo, quando acompanhados de um copinho de vinho, só tem é de ser bom e obviamente só à noite, nunca durante o dia.
- Falo a sério, disse ele, hás-de ir comigo ali à Carapinheira a casa de um cliente, que ele tem lá um vinho que ele diz tornar as pessoas inteligentes, devido ao elevado grau. Outro dia bebi lá um “martelo” a frio, ao fim do dia, que até perdi o norte...
- Ficaste “zoiro” foi?
- Nãão!! Fiquei foi inteligente, começaram os dois neurónios a funcionar e...
- Os dois ao mesmo tempo? Perguntei.
- Sim, vê lá o turbilhão que se gerou, os dois ali a funcionar à bruta e comecei a ficar cheio de ideias.
- ‘tou a ver, tens de ter cuidado antes que fiques completamente obnubilado, imagina o meu único, como não ficaria ao provar semelhante “pomada”...
E desatamos a rir à gargalhada que até as cadelas vieram ver o que se passava. Aos meus ex-colegas fazia confusão, como estamos juntos há tantos anos, sem ter filhos nem nada que nos faça desanuviar um do outro, claro que nem tudo são rosas, mas acho que encontrámos um equilíbrio fácil e digerimos todas as vicissitudes, mesmo as mais pesadas que sofremos juntos, ou separados. Não existem ressentimentos nem assuntos mal resolvidos, já se falou de tudo o que havia para falar, agora é tempo de se falar só do necessário ou do que nos deleita, os silêncios não incomodam, acho que nunca incomodaram. É tempo de fruir todos os momentos felizes que se nos deparam, ou então construí-los nós mesmos.

Surpresas


Como todos sabem, nem todas as surpresas são necessáriamente boas.
As pessoas vão adquirindo rotinas, por vezes estranhas como é o caso do correio cá em casa: eu nunca vou à caixa ver o correio, pois sei que o meu marido quando chega a casa é a primeira coisa que faz, embora nunca abra as cartas que chegam, mesmo as que lhe são endereçadas, deixando para mim essa parte, como sou eu que trato da organização dos documentos nas respectivas pastas. Ontem, como cheguei por volta das 22h depois de um dia de experimentação na sequência da resposta a um anúncio, estava cansadíssima, pois passei toda a tarde "a dar ao chinelo" até às 21h e só queria uma sopa e descanso...no entanto, como a EDP só envia correspondência acerca da facturação uma vez por ano, dado pagarmos por débito em conta a estimativa que é feita para todo o ano; fiquei curiosa com a única carta que estava na mesinha da entrada proveniente da EDP, à qual eu havia comunicado a leitura do contador em Janeiro, pois não me recordo de o fazer a maior parte das vezes. Ainda bem que comi a sopita primeiro, senão não o teria feito após a abertura da carta, em virtude do seu teor.
Nada mais, nada menos que a actualização da mensalidade e a respectiva regularização, ou seja : 801,28€ a pagar em 4 de Maio...eu não tenho sorte nenhuma; nem sequer me apercebi há quanto tempo não enviava a leitura, mas acho que desde 2004 e agora, como costumava dizer um amigo meu que já faleceu:"toma lá cria malvada, que já lombaste".
Que isto sirva de lição, tanto a mim, como a quem como eu se esquece frequentemente destas coisas, às vezes pequenos pormenores trazem grandes surpresas.Já agora, bom feriado para todos e VIVA A LIBERDADE!!

24.4.06

Vamos ver...




Como hoje só cá pude vir de manhã e o blogger estava mal disposto e não me deixou editar, após um dia de experimentação na sequência da resposta a um anúncio, sem história que se preze, a não ser que a conclusão é óbvia: não interessa!
Venho agora tentar editar algo, e como são 10 da noite e acabei de chegar com os pés a latejar (olha, versejei), não me ocorre mais nada a não ser deixar-vos mais duas das minhas ilustrações, do meu livro preferido.Beijinhos e até amanhã.

23.4.06

Lista de Preferências

A minha querida amiga Elipse deixou-me um desafio, ao qual não poderia deixar de aderir, embora depois de tudo o que já foi dito, a minha abordagem vá parecer algo pueril e sem a mínima qualidade. Pretende-se rimar com as palavras deixadas por Brecht, todas elas cheias de conteúdo mas de rima difícil para alguém como eu, mas cá vai:

Lista de Preferências (Bertold Brecht)

Alegrias: todas tão fugidias

Dores: têm sempre os seus valores

Casos: vidas sem prazos

Conselhos: deveriam ser nossos espelhos

Meninas: a alegria num rosto traquinas

Mulheres: ainda não mostraram todos os seus poderes

Orgasmos: o apogeu dos entusiasmos

Ódios: seguem nos próximos episódios

Domicílios: onde o conforto nos traz auxílios

Adeuses
: gestos que não rimam...

Artes
: são dos eleitos, os seus estandartes

Professores
: com eles se aprendem valores

Prazeres: a vida não vale, se não os tiveres

Projectos: escolha entre múltiplos trajectos

Inimigos: são na vida, os nossos castigos

Amigos
: quando a alma dói, são nossos abrigos

Cor: é a luz nos olhos de quem sente amor

Meses: alguns parecem maiores que anos, por vezes

Elementos
: são desta vida os ornamentos

Divindades
: já não tenho; nem saudades....

Vida: tantas vezes perseguida

Morte
: não passa de um meio de transporte.

Não passo o desafio a ninguém, pois a quem gostaria de passar não tem disponibilidade nesta fase.

22.4.06

Companhia violenta


Por várias vezes vos tenho deixado aqui, poesia de Vitor Matos e Sá que venho retirando de um livro de poemas inéditos editado em 1980 a título póstumo, pois o seu autor faleceu em 1975. Este livro acompanha-me quase desde essa altura e vá para onde for, tenho de o levar como se fosse uma parte de mim.
Como gosto de desenhar, em todos estes anos tenho vindo a colori-lo com alguns desenhos meus, nada de especial, só para me dar ainda mais prazer lê-lo, apesar de saber muitos poemas de cor.
Para já fica este exemplo, mais tarde mostrar-vos-ei outros. Desejo a todos um excelente fim de semana.

21.4.06

Corte de cabelo do ano


Olhem que deste, nem a Lúcia Piloto se lembrou...já agora: Bom fim de semana, pessoal!!

19.4.06

Ocaso



OCASO

Oh, se a tarde pudesse esperar
Que do meu peito se soltassem as aves
E os meus braços se desenvencilhassem
De todos estes ramos e raízes,
Se pudesse esperar que sacudisse as folhas
Que me cobrem e me inclinasse
Para escorrer as águas dos meus olhos.
Espera um pouco, deixa-me ajeitar
Os brincos de princesa que me pendem
das orelhas; deixa que o vento me penteie,
para podermos então dar as mãos
e correr, deixando um rasto de mil cores
rumo ao horizonte...

Ivamarle, 19.04.06

18.4.06

Liberatura II


A Srª Provedora que me perdoe mais um "testamento", mas como o próprio título indica, este até é um manifesto minúsculo; e acredita que deu mais trabalho a transcrever do que dará a ler, embora seja um pouco longo é mais um exemplo da dita publicação que já referi, é só para fechar o ciclo.

manifesto minúsculo anti – MAIÚSCULAS

vivam as minúsculas. abaixo as maiúsculas. arte de fato e gravata, cheirinho a naftalina, passeio higiénico ao domingo, brilho encerado nas salas dos museus e caganitas de pombas nos monumentos nacionais.
abaixo a arte engravatada e a gravata e as maiúsculas.
abaixo. abaixo. abaixo.
a arte penteadinha, risco ao meio nas ideias, afadiga-se em perpetuar os falsos valores e alimenta-se de batatas e apadrinha o chato e rumina regras de pacotilha e cospe máximas e cola estéticas na Imutabilidade Racional Inútil.
a arte das maiúsculas é farinácea. bacalhau quer alho. batatas pedem azeite.
abaixo esta arte de merceeiros e vendilhões comercializados. abaixo o mofo das gramáticas e o bolor da arte em pó. limpem o país destas moscas que saltitam de mesa em mesa emborcando café e discutindo a colocação das vírgulas.
as maiúsculas são feias. abaixo as maiúsculas.
as maiúsculas são o escarro da decência a inspiração dos estéreis um furúnculo de cérebros primariopilosos o cancro da arte pela arte o diagnóstico para cadáveres.
as maiúsculas são a sonolência dos romancinhos ligeiros o sustento das fotonovelas pesadas o tricôt da viúvas servido entre o chá e as torradas os fofos passatempos de solteironas beatas. as maiúsculas são a escuridão da humanidade e a penumbra dos imbecis. o amor nos romances escreve-se com maiúscula. abaixo as maiúsculas. abaixo.
deus escreve-se com maiúscula. pátria escreve-se com maiúscula. família escreve-se com maiúscula. e deus copulou a pátria e a pátria pariu a família e a família é filha da maiúscula. abaixo os prostíbulos. abaixo.
os aspirantes as ídolos perfumam-se com maiúsculas e masturbam-se nas orações papagueadas dos clássicos e enfeitam-se com os laçarotes coloridos das enciclopédias e bebem na sanita do saber escolástico e refugiam-se na miopia do passado e transpiram, cansados, os restos putrefactos do saber caduco. abaixo as maiúsculas. abaixo.
as maiúsculas são o A de Autoridade o B da Burocracia e o C de Castidade o D das Divindades o E da Escola o F do Formalismo o G da Gramática o H da Hipocrisia o I da Ignorância o J da “Justiça” o L do Lirismo o M dos Mitos o N de Nuclear o O da Obediência o P de Poder o R de Repressão o S de Sistema o T de Torturatrabalho o U de Uniformizar e o V de Vernáculo o X de Xenofobia o Z de Zelo. as maiúsculas são dos maiúsculos. fora com as maiúsculas. fora.
as minúsculas são a de audácia b de baca c de gargalhada d de d e de zaratustra f de copulacensurada g de gato h de hahahaha i da imaginação j de já l de liberatura m de boi n de não o de recusa p de porra q de bagaço r de revolução s de subversão t de preguiça u de umbigo v de venham-se x de achim e z de etc.
as minúsculas são divertidas. vivam a minúsculas. vivam.
as minúsculas não vão à escola são imorais e desatentas não são servidas entre os brindes dos banquetes, arrotam sem pedir licença e não se curvam perante as nacionais – bandeiras; borrifam-se nos adiposos tecidos dos ventres maiúsculos e nunca dizem passou-bem nem fazem mesuras às botas hierárquicas.
as minúsculas são livres. vivam as minúsculas.
entre uma maiúscula e uma minúscula coixnistênxia possível. façamos cócegas nos sapatos das maiúsculas para que chorem e se afoguem nas lágrimas. que pereçam. que faleçam. que apodreçam. que se empanturrem nas palavras obscenas que abominam e rejeitam com um nãometoques patético. que tenham cópulascensuradas. que tenham insónias. que tenham vómitos. mas que parem com a diarreia e acabem com os clisteres.
vivam as minúsculas. vivam.

a. pedro correia
joão j. ferreira da silva
mário f. Da costa
vitor manuel de melo
(in: Liberatura; Abril 1979)

17.4.06

Liberatura




Corria o ano de 1979, estava eu em plena adolescência e tinha aquela sede de coisas novas, diferentes ou simplesmente: à margem do que se chama hoje “politicamente correcto”. Sobretudo na poesia, procurava escritas alternativas, amadoras ou não; em Coimbra nessa altura, surgiu uma publicação da qual só conheço os nºs 1 e 2 e penso que mais nenhum terá sido editado. Parece uma sebenta, chamava-se “Liberatura” tem poesia e textos escritos à máquina por diversos autores, entre eles A. Pedro Correia de quem vos deixo este poema que se chama: “Estória seguida de noite” do qual eu sempre gostei muito, não é dos mais “alternativos”, mas gostei das palavras. Desta publicação, não eram só os textos que eram diferentes, mas também a maneira de os apresentar, como poderão ver pela imagem, daí esta publicação ser considerada na altura, do mais radical que existia.

Acordou um dia já vestido de resolução.
Fixou um sorriso novo no rosto e saiu.
Partia, disse-me, porque queria beber a vida até à última gota.
Partia porque aqui sempre foi perto, disse. Sempre foi pouco.
Partia, disse-me, porque o arco-íris não acaba aqui e queria pendurar-lhe o sorriso novo. No vermelho, penso.
Continuou, partindo sempre, até gastar o sorriso e acordar nú, já muito bêbedo de vida.
Não aguentou a ressaca. Suicidou-se.

A. Pedro Correia

Para começar bem a semana


E ainda dizem que as mulheres têm um raciocínio "retorcido"....

14.4.06

Páscoa Feliz


Embora o tempo pareça não estar a ajudar, desejo a todos uma Páscoa florida e cheia de sol nos vossos corações.

13.4.06

Surpresa!!!!!



Hoje tive uma ilustre visita surpresa aqui em casa, nada mais nada menos que: O Tio Vivi! É verdade, esse velhadas arranjou tempo e disposição, entre a artrite e as espondilite anquilosante, para me fazer uma visita ao vivo e a cores. Teve alguma dificuldade com a bengala, mas como é r/ch não se cansou muito.
convidei-o para uma foto, mas disse não ter feito a barba e nem tinha penteado os 8 cabelos em condições, enfim, desculpas...então lá tirámos uma foto aos nossos blogs, para ficar para a posteridade.
Apesar de ter sido breve, gostei muito da visita pois ele ainda não se baba muito para cima do teclado, só as arteroses é que não o deixam teclar muito depressa.
Muitos beijos Tio e obrigada pela visita, tens de voltar para almoçar, eu prometo que faço algo que não te custe mastigar com os teus 3 dentes. Beijos!!

12.4.06

Adeus tristeza

(foto:Nuno Marques)

Foram-se os vários tons de cinza do Inverno, a nudez das árvores e o cheiro a água sobre o molhado e tudo foi substituído por tons de luz, por ondas de cor, com o azul céu como tom de fundo.
A solidão plúmbea dos dias, foi inundada de chilreios e esvoaçares afanosos em redor dos ninhos e em cada canto nasce nova vida. A quietude das neblinas matinais, foi substituída por um sol radioso que convida ao ócio ao ar livre; até que caia de novo a primeira folha e uma rajada de vento agreste, nos fustigue de novo o rosto.
O Inverno nunca me deixa saudades, incomoda-me a quantidade de roupa que temos de usar para nos aquecermos, incomoda-me o ar macambúzio das pessoas e a falta de cheiros agradáveis, penso que é sobretudo a falta de cheiros que me faz deprimir assim nessa altura; agora no meu quintal as rolas e melros esvoaçam contentes, cheira a flor de laranjeira, a frésias e eu...eu sinto em sintonia com eles, a verdadeira paz...

É isto que acontece

Quando a criatividade está nas ruas da amargura, até uma velha piada de "corno" serve...

No meio de um julgamento, pergunta o Juiz:
- O senhor chegou a casa mais cedo e encontrou a sua mulher na cama
com outro homem?
- Correcto, meritíssimo - diz o réu de cabeça baixa.
Continua o juiz:
- O senhor pegou na sua arma e deu um tiro na sua mulher, matando-a na hora?
- Correcto, meritíssimo - repete o réu.
- E por que o senhor atirou nela e não no amante dela?
O réu responde:
- Senhor Juiz ... Me pareceu mais sensato matar uma mulher, uma única vez, do que um homem diferente todos os dias.
Foi absolvido na hora!
Corno, porém sensato ! ! !

11.4.06

Frésias


Adoro a Primavera pelas mais variadas razões, seja pelo sol que já aquece, seja pelos cheiros que pairam no ar e pelas cores que pontilham cada pedaço de verde.
No entanto, esta percepção torna-se mais difícil no centro da cidade e apesar de quase todas as casas em redor da minha terem jardins e quintais, ninguém parece ter gosto ou tempo, para plantar flores primaveris e encantar-se com as suas cores e cheiro; o meu marido que adora jardinar, prepara sempre as mudanças de estação, plantando as flores respectivas e cuidando-as para que floresçam com toda a pujança e assim, neste momento, duas ou três casas antes da minha, já se sente o cheiro a Frésias e à medida que as pessoas se vão aproximando, noto que vão olhando os jardins a procura de onde vem o cheiro, muitas quando chegam ao meu, param e ficam a saborear o cheiro e a deleitar a vista com as cores delas e os muitos ramos de orquídeas que pendem no meio e as estrelícias em canteiros. Não sou muito adepta de colher flores, mas as frésias por vezes com o peso da chuva vergam os caules e ficam rasteiras à relva, e não é possível apará-la sem as danificar, nessa altura o meu marido corta-as para colocar numa jarra. Só vos digo: qual Brise, ou Ambi Pur ou o que seja, fico com a casa inundada daquele perfume suave durante uns dias e os meus olhos contentes com as cores da alegria.

10.4.06

Vou tentar


Adorava que o meu marido voltasse a desenhar, sobretudo animais que são um dos motivos preferidos dele, se não fosse este raio de vida que nos obriga diariamente a procurar as migalhas da nossa subsistência, eu até teria coragem para lhe pedir, mas sei que ele precisa de paz de espírito e despreocupação para o fazer mas, neste momento de instabilidade financeira que atravessamos, sei que ele não seria capaz; mas que eu gostava, lá isso gostava.

8.4.06

Sua Alteza Dª Jota

1 de Outubro 2005
2 de Abril 2006

No passado dia 1 de Abril, fez 6 meses que a Jota veio cá para casa. Só quem tem – ou simplesmente ama – animais, consegue dar valor a este sentimento gratificante que se vai instalando, à medida que o tempo passa e vemos a evolução positiva que ansiávamos.
A Jota está hoje muito diferente do que estava quando o meu marido a trouxe, dia 1 de Outubro, como poderão constatar pelas fotos, pois a outra foi tirada dia 2 de Abril e ela tem uma pose muito digna e altiva, cruzando sempre as patas.
A sua última conquista foi aprender a dar beijinhos, como sempre imitando a Nika e é engraçado, pois a Nika tem uma língua enorme que pende quando está cansada e quando lambe, lambe mesmo; enquanto a Jota não, nunca a vi de língua de fora, e quando dá beijinhos é só mesmo com a pontita da língua, o que faz com que o nariz chegue primeiro...
Brinca e corre com a Nika com uma energia enorme, mas não sabe brincar com outros cães, ou eles não sabem brincar com ela sei lá, mas como ela tem aquele problema na pata e não deve sofrer stress físico, dado agravar-lhe os sintomas da doença crónica de que padece, também não me esforço muito para que ela se canse.
Eu sou mesmo uma dona babada, e o sofrimento que eu via nos olhos da Jota quando ela chegou quase a morrer, com o fígado tumefacto e uma magreza extrema, foi desaparecendo à medida que a confiança e o carinho se instalaram.
Agora apelidamo-la de “melga”, é tão insistente quando quer festas que está sempre de pata em riste, ou a meter o focinho debaixo das mãos, levantando-as; estar ao computador com ela ao lado é impossível, não consigo segurar no rato, ou melhor, eu segurar até seguro, mas no ar...
Mas digam lá se concordam: está linda ou não está?

7.4.06

Ser Português(a)





Num país onde muita preciosidade se destrói, para dar lugar a verdadeiros mamarrachos, onde se constroem verdadeiras aberrações, por vezes revestidas a azulejo na sua pior forma: uma mistura de sobras de azulejos de cozinha e casa de banho de várias cores, cuja característica comum será mesmo só o tamanho (quando é...), ou que são mal enquadrados na região onde se situam, sendo um exemplo evidente disso, as casas de montanha de telhados inclinados, revestidos a preto e quase sempre com um torreão (ah, valente!!) construídas decerto por algum emigrante nalgum país do centro da Europa, perto de uma qualquer praia do centro ou sul; eu continuo a ser adepta da reconstrução, o mais possível dentro do estilo característico das regiões onde se situam, embora essa opção não seja a mais barata, é seguramente, a mais sensata.
Nestas fotos está um exemplo daquilo que advogo, (poderão ampliar, clickando sobre a imagem). Numa zona de xistos, onde antes existia uma ruína, optou-se por um projecto perfeitamente enquadrado na arquitectura da região, não sendo embora a traça tradicional, mantiveram-se alguns pormenores exteriores para além do xisto, tanto nas paredes como nos telhados e as janelas de guilhotina.
Brevemente vai ser feito algo nos mesmos moldes, numa casa que só ainda não é uma ruína, porque a sorte tem intervindo e conseguiu-se comprá-la a tempo, pese embora o facto de ter de ser totalmente demolida e reconstruída de novo, pois há zonas em que a pedra ou por ter muitos anos, ou por ser onde estavam encostadas salgadeiras, se deteriorou de tal forma que se está a desfazer, literalmente.
Gosto de casas de xisto ou granito em regiões serranas, e também gosto de uma bela casa branca e azul na planura do Alentejo, gosto das particularidades do meu país e quero preservá-las, acho que isso também é exercer a minha cidadania e enaltecer o meu patriotismo.

6.4.06

Ainda acerca de desenhos



(Ó mana, eu juro que não é de propósito, dá-me para isto que é que queres? Deve ser por ter reduzido a medicação...LOL;LOL)

Nos anos 80, os poucos objectos que trazia na carteira para além do B.I., porta-moedas e tabaco (quando havia), eram: lápis, afiadeira, borracha e bloco de notas liso, objectos absolutamente essenciais para matar o tempo nos “entretantos” das conversas do meu marido com os amigos, sobre as motas e as transformações que cada um fazia ou tencionava fazer e afins, ou simplesmente a fazer tempo para ser noite avançada, pois naquela idade parecia um sacrilégio ir dormir antes da 1 ou 2 da manhã, e a nós fazia-nos jeito, pois eu tinha de entrar às escondidas em casa dele, ou então assistiríamos a mais uma “cena” da mãe; de manhã era mais fácil, era só saltar pela janela (vantagens dos r/ch).
Volta e meia, acabava-se o bloco e aquilo era quase como faltar o tabaco: se o tivesse comigo podia nem me apetecer desenhar, mas se não o tinha, não pensava noutra coisa.
Numa dessas vezes em que não tinha bloco, estava no café à noite, quando se acabou o maço de tabaco comecei a brincar com ele, tirei-lhe a prata e alisei-a, no intuito de desenhar por trás na parte branca, mas achei que era giro desenhar na parte prateada e por sorte estava lá alguém que tinha uma Rotring e emprestou-ma. Então comecei a desenhar na prata e gostei do toque e a partir daí descobri mais um tijolozito para a casa da felicidade. No entanto havia um problema, de que só comecei a dar conta mais tarde, não era a tinta que saía, mas a prata que se deteriorava, começava a lascar e a soltar-se do papel, conclusão: nem uma recordaçãozinha ficou desses desenhos, paciência, lá voltei à grafite.
Por acaso acho que nunca tive grande jeito para retratos, acho-os dificílimos de fazer, pelo menos a partir de fotos e pior um pouco, se forem a cores. No entanto deu-me uma vez, em 1987 experimentei fazer um, a partir de uma foto que uma amiga me tinha tirado em 1980, que tinha tudo de mau: era a cores, a posição era de recostada e apoiada no cotovelo e o que eu pretendia era desenhá-lo, dando-lhe uma volta de 45º, para além de ser tirada de longe...
Como por vezes sou teimosa que nem uma mula, levei a minha adiante e tentei fazê-lo e este penso ter sido o único desenho que consegui fazer, largando-o e pegando-lhe novamente, pois o tema era para copiar, a criatividade não interferia. Acho que levei no total, umas boas horas de volta dele, durante dias e dias sempre com a sensação de que não estava bem, até que me fartei; já não conseguia retocar mais os lábios, a prespectiva do nariz em relação ao outro lado estava errada,e não me apetecia continuar o cabelo, estava fartinha de mim ...
Então, ficou assim como podem ver. Pela foto podem ver a imperfeição do desenho, terminou ali a minha pretensão (se é que a tinha tido alguma vez) a retratista, apesar disso guardo-o com carinho pois é uma peça única, de uma vertente do desenho que não voltarei a tentar, dado não a dominar de todo.

5.4.06

Grafite



(Ó mana desculpa lá, é só mais um testamentozito...)

Se existe objecto de predilecção, seja para a escrita ou para o desenho, o meu é sem dúvida o lápis; de tal maneira que no Liceu, apesar de saber que não podia, pedia sempre aos professores para fazer os “pontos” a lápis. Sim, um lápis simples de preferência 2HB e sempre afiadíssimo, que é outra das minhas manias, pois não consigo escrever ou desenhar com lápis rombos e por esse facto têm de ser de qualidade; nos de cor opto pela Caran D’Ache, que foram aliás a minha primeira compra quando cheguei à Suiça, uma maravilhosa e há muito desejada, caixa de 40 lápis de cor, contrariamente à maioria das pessoas que me dizem que a sua primeira compra seriam: chocolates...enfim, prioridades.
Apesar de não os conseguir usar durante algum tempo, em virtude das feridas e das consecutivas perdas totais da pele das mãos, provocada pelos detergentes industriais com que trabalhava e das diferenças de temperatura nos meus trabalhos diários, pois poderia por ex. acabar lavar as panelas de pressão gigantes, dentro das quais tinha de me meter para as esfregar e cabiam lá mais 3 ou 4, seguidamente poderia ir lá para fora para os –10º C, retirar a neve de alguns locais, ou ir para os frigoríficos de –20º C, arrumar ou limpar, era assim.
Quando comecei a experimentar o desenho com lápis de cor, senti um toque diferente.
Não era a mesma coisa, os traços que saiam não eram os que a mão pedia e nunca consegui fazer um desenho “de jeito” a lápis de cor, só, sem utilizar primeiro o de grafite.
Há alguns anos, uma querida amiga ofereceu-me uma caixa de madeira da Caran D’Ache, com 160 lápis de 80 cores, pois são 80 de aguarela e os outros 80 são Prismalo. Guardo-a como um tesouro, por vezes abro-a só para admirar aquele arco-íris de cores – já me esquecia: outra mania é ter as cores sempre na ordem- mas foram raras as vezes que os utilizei, pois o que realmente me dá prazer, é o toque da grafite no papel, por vezes uso-os para colorir desenhos já feitos, ou em superfícies maiores.
No entanto, fico sempre com a sensação que nunca acabo os meus desenhos, o que é verdade, pois se algo me interromper o processo criativo, é-me impossível retomar o traço, o rumo e o estado de espírito. Nas arrumações que ando a fazer encontrei estes dois exemplares de “inacabados”, o peixe de 1990 e o pássaro, mais recente de 2004, e como podem ver parecem ter sido largados à pressa, por quem fugiu em busca de algo imperativo...fica-me sempre a pergunta: Sê-lo-ia?...

4.4.06

Só me saem duques...



Como já referi algumas vezes, moro num andar de um rés-do-chão alugado no centro da cidade, do qual pago uma renda irrisória e o senhorio não quer vender; é a tal pescadinha de rabo na boca: não faz obras porque a renda é baixa, eu não faço obras porque não tenho dinheiro e a casa não é minha...
A juntar a vários problemas comuns a casas com mais de 50 anos, ao nível da canalização, electricidade que vamos melhorando, existem outros que nos ultrapassam e que não veremos resolvidos, a não ser da pior forma: quando acontecer uma desgraça.
O prédio de um dos lados da casa está desabitado há já uns anos, e depois do episódio que já referi do suposto cadáver, vieram cimentar as entradas do piso térreo e limpar o mato que se acumulara nas traseiras da casa, onde cada uma tem um quintal bastante grande e para onde eu via os miúdos do 2º ciclo irem depois das aulas, não sei se para fumarem às escondidas ou quê...
O último inquilino do prédio, resolveu abrir ilegalmente mais um acesso para carros, numa parte que era antes um jardim, construiu uma rampa em cimento, colada ao muro meeiro que separa as duas propriedades, estando-se completamente borrifando para o facto do muro já estar inclinado para o meu lado.
Como podem ver pelas fotos, o terreno é inclinado e a pluviosidade vai-se entranhando ano após ano e o muro abriu brechas já há mais de 10 anos e está cada vez pior, pois ao cimentar a rampa, desviou o curso natural das águas pluviais e o muro ganhou tamanha inclinação, ao ponto do meu marido ter colocado escoras na zona mais inclinada, que também já estão a vergar e fica precisamente na esquina da casa onde está a sala de estar, e não tendo ponto de apoio, não pôde colocá-las também na escada de acesso ao terraço e ao nosso quintal, onde passamos todos os dias, seja por causa dos cães, seja para estender roupa.
Todos os anos eu digo que não passa daquele inverno, já remodelámos a sala de estar tendo em conta essa possibilidade, colocando os sofás do lado contrário, assim se se perder alguma coisa, será a TV e o móvel...
O senhorio veio cá o ano passado, viu o estado em que está e diz que não quer saber de nada, frisando no entanto, que nas partilhas entre os 3 irmãos, o logradouro pertence unicamente ao r/ch, os restantes andares até o direito ao quintal perderam, onde antes existia um tanque para cada andar e ao cimo, três canis e um talhão de terra para cada um. No entanto: “não quer saber”...
Mas que merda é esta? Por vezes sinto-me rodeada de filhos da puta, é o vizinho de cima que é um burgesso, o juiz que felizmente não está a viver cá, mas pensa ter o rei na barriga; e logo eu que não me meto na vida de ninguém, nem sei o nome da vizinha de cima, nem do filho, apesar de morar aqui há 21 anos não conheço ninguém, nem quero conhecer, nem me interessa e só quero é resolver as coisas “na boa” e só me saem duques...

3.4.06

Memórias que me fazem sorrir


Desculpem lá mais uma algo longa estória das minhas.

Isto de ter tempo para remexer nas velhas pastas e caixas cheias de fotos, ou seja, nos baús da memória, faz com que encontremos coisas que nos recordam situações, ou épocas passadas, umas gratas, outras nem tanto...
Neste caso que passo a referir, as memórias são felizes, não sei se a vivência o foi de facto, mas na memória foi o que ficou, uma época de desprendimento, juventude e sobretudo de despreocupação.
Corria o ano de 1981, eu tinha deixado de estudar, ou melhor: chumbei por faltas; tudo porque conheci o meu marido e largava tudo para ir andar de mota com ele, então, mal ouvia o som da mota no Largo da Portagem ( a mota era de competição e fazia um barulho ensurdecedor), eu que estudava do outro lado do rio no Liceu D. Duarte, pedia logo para ir ao WC e nunca mais aparecia, pois na altura eu achava que era preciso viver e não, aprender aquelas coisas chatas.
O meu marido sempre teve uma predilecção por carros antigos, sobretudo pelos Peugeot e nessa altura um amigo dele tinha um que havia comprado, mas acho que lhe tinham posto óleo Fula no circuito dos travões e ele não tinha dinheiro para o arranjar, nem percebia nada de mecânica e decidiu vendê-lo ao meu marido por 15 contos, nunca mais de esqueci do nome registado no livrete:” Peugeot 403 Berline, Grand Luxe, toit fixe” Eh! Eh! Eh!
Era assim parecido com o do detective Colombo só que em vez de ser totalmente descapotável, tinha tecto de abrir sobre os bancos da frente, tinha 1500 cc e era um peso pesado de quase 2 toneladas. Mal o comprou, toca de ir com ele para Mira, sem travões nem nada e com a bateria a morrer aos soluços, direitos a uma oficina em Carromeu onde costumavam arranjar as sucatices.
Eu nesse dia não fui por qualquer motivo e quem o acompanhou, foi um amigo nosso que é a pessoa mais louca varrida, que já conheci na minha vida, mas quando digo louco, não é que se notasse, tinha (e ainda tem) uma excelente figura, fino trato e finos gostos, só que era capaz das maiores loucuras, pode ser que um dia vos fale dele, mas agora, adiante: então, depois de arranjarem os travões, verificaram que a bateria estava completamente morta e eles na oficina não tinham para venda, e de repente pergunta o Rui (o tal amigo) ao dono da oficina:
- De quem é aquele carro que está ali encostado?
Ao que ele responde: “ Esse é de um cliente que o veio deixar hoje, para lhe mudar as pastilhas e vem buscá-lo amanhã.”
- Então, podias emprestar-nos a bateria só para irmos a Aveiro num instante, e lá compramos uma e trazemos esta de volta ainda hoje.
O dono primeiro disse que não, que era mau filme se o cliente aparecia por qualquer motivo e tal, mas lá acabou por ceder, então começaram a tratar do assunto, mas o meu marido ainda nem tinha visto bem o carro e andava de volta e por baixo dele, a ver se teria mais algum problema mecânico ou de corrosão, enquanto o Rui tratava de colocar a bateria que não assentava lá muito bem e teve de lhe ser feita uma cama com uns cartões para ela não se mexer muito, e lá arrancaram.
Acho que não fizeram mais de 5 Km, começou uma fumarada a sair do capot, encostaram de imediato e mal se abre, o dito já estava em labaredas, pois o Rui não reparou que os colectores de escape ficavam mesmo ao lado, encostou os cartões ao colector e este mal aqueceu, pegou fogo como é óbvio...
Aquele modelo, apesar de não ter banco corrido à frente, como tinha mudanças ao volante e o travão de mão era no tablier, dava bem para andarem 3 pessoas à frente, tinha era um problema com as fechaduras das portas da frente, umas vezes não fechavam, outras, não abriam. Uns meses mais tarde à noite, vínhamos três à frente, o meu marido, eu e um amigo nosso que tinha a alcunha do “Testas” pois tinha uma testa alta e muito luzidia , mais 3 “marmelos” atrás, a deslizar em ponto morto pela Nicolau Chanterenne abaixo, rua essa que tinha carros estacionados ao longo do lado direito e dois sentidos. Eu estava a fazer qualquer coisa nos sapatos, inclinada para a frente e começo a ouvir: ó pá olha aquele gajo! Olha! olha! Olha o ...crash! Puumm! Panktrapam! Fschssssssss!!!!!....nem cheguei a ver o gajo ainda inteiro, achei-me debaixo do tablier, com o Testas por cima de mim e quando olho para o banco do condutor é que me assustei, o volante devia estar a uns 10 a 15 cm do encosto do banco, pois não eram como agora, que quando bate quebra, aquilo era um veio directo da direcção, ao volante e muita gente morria esmagada por esse facto, a minha porta não abria, saímos pelo tecto de abrir por onde tinha saído o António, como me apercebi quando o vi encostado a um muro, a arfar com falta de ar, eu estava menos mal, os que iam atrás também não se tinham aleijado muito, o Testas, coitado, tinha batido com a dita (testa) no tablier, o que ainda a tornou mais saliente e segundo ele, lhe provocou uma dor de cabeça que durou uma semana...então, os que iam atrás e o António é que se aperceberam, nós íamos em ponto morto e numa curva, cheia de carros estacionados à nossa direita, vem um Fiat 127 em sentido contrário a circular em velocidade excessiva e a meio da curva, perde o controle do carro e saiu da mão, para cima de nós.
A sorte foi que o Peugeot era rijo como’s cornos e aguentou o embate, mas morreu ali coitado; o meu marido quando recuperou o fôlego e olhou e viu o carro com a frente completamente destruída e o 127 prontinho para a sucata, deu-lhe uma fúria das dele e toca de ir à mala do carro buscar o ferro de desapertar rodas; sem querer saber que o puto, que pelos vistos tinha acabado de tirar a carta e tinha pedido o carro ao pai para sair com a namorada, estava cheio de sangue com a cabeça partida, ou seja, feito num molho de bróculos, mas como ia dizendo, o meu marido de ferro em riste atrás do desgraçado, que mesmo cheio de sangue e todo torcido conseguiu fugir até à clínica que há frente a minha casa onde se refugiou, tendo assim a falta de ar do meu marido impedido que acontecesse alguma desgraça ainda pior...
A companhia de Seguros pagou-nos perda total que avaliou em 60 contos; para compensar, o meu marido comprou logo 2 de uma vez, cada um por 20 contos, um que vendeu passado pouco tempo, que até estava bom de chapa, mas o motor não andava e este da foto que estava muito podre, estacionado havia 3 anos encostado a um muro numa zona sombria, e já tinha uma mini horta lá dentro, mas parece que foi só pôr gasolina, bateria e limpar uns contactos e tá a andar; e se andava...andava tanto que começámos a aperceber-nos que pelos enormes buracos que tinha nas embaladeiras, capot e nas portas, saiam pedaços de ferrugem enormes, com chapa agarrada e achámos melhor arranjar uns autocolantes, o maior possível para não perdermos tanto “lastro”, os maiores que conseguimos foram da Furacão, para as embaladeiras e para o resto, o que se pode ver, só não consegui grande solução para o buraco debaixo do tablier do lado do pendura, cada vez que passava numa poça de água ou se chovia, tinha de levantar as pernas...
Nesse ano, como regressámos à Suiça, deixámo-lo à guarda do nosso amigo Rui, e quando chegámos uns meses mais tarde, foi neste estado que o encontrámos, não muito diferente do que era antes, só um bocado mais sujo...

2.4.06

Tortura


(foto Ricardo Tavares)

Háblame más... y más..., que tus acentos
me saquen de este abismo;
el día en que no salga de mí mismo,
se me van a comer los pensamientos.

Ramon de Campoamor

1.4.06

Bom fim de semana!!


ONDULAÇÃO
O luar ondula
fluindo e refluindo
para não acabar a maré cheia
nesta praia onde
ponderável eu me encontro indo
— o pensamento em rumos ignorados
e ao sabor dos presságios. . .
Em breve, à minha volta no areal,
esperanças, de branco, vaporosas,
chorando alto naufrágios
à vista da magia de seus mundos,
com suas lágrimas,
quais enxadas na terra, poderosas,
cavarão sulcos fundos.
E elas ali se hão de enterrar
quando o luar fugir...
Mas com elas enterrarei os meus insultos
à minha nobre angústia de vibrar,
à minha vã desgraça de sentir!

Edmundo de Bettencourt